Há um tipo de cosmopolitismo global, muito influente no momento, que configura o planeta como um mundo concêntrico de sociedades nacionais se estendendo até vilarejos globais. É um cosmopolitismo de relativa prosperidade e privilégio fundamentado em ideias de progresso que são cúmplices de formas neoliberais de governança e de forças de concorrência de livre mercado. Tal conceito de "desenvolvimento" global tem fé nos poderes praticamente sem fronteiras da inovação tecnológica e das comunicações globais. [...] Ao celebrar uma "cultura mundial" ou "mercados mundiais", esse modo de cosmopolitismo se move rápida e seletivamente de uma ilha de prosperidade para outro terreno de produtividade tecnológica, visivelmente prestando pouca atenção à desigualdade persistente e à miséria produzida por esses desenvolvimento desigual e irregular.O autor segue propondo que a globalização tem que começar em casa e que as nações precisam lidar com suas diferenças internas, como os "povos aborígenes da Austrália", com o difícil balanceamento entre a igualdade e o direito à diferença.
Para meu livro, interessa enfatizar que aquele cosmopolitismo citado depende da produção da desigualdade persistente. Nesse sentido, o Brasil está na crista da onda, encontrando no extermínio novas formas de lucro nos renovados ataques aos povos indígenas, na extinção de direitos sociais, na impunidade oficialmente celebrada de chacinas, o narcopentecostalismo que segue atacando a liberdade religiosa sob a indiferença das autoridades, especialmente no Rio de Janeiro.
A política exterior do país afinou-se pelo mesmo diapasão: entre outros exemplos, o assédio de uma embaixadora na ONU contra um autoexilado brasileiro, Jean Wyllys, (reeleito deputado federal, deixou o país em razão das ameaças de morte feitas por bolsonaristas), e o alinhamento aos Estados mais retrógrados contra os direitos das mulheres.
O Brasil, porém, neste livro é antes meu ponto de vista do que meu assunto, ao contrário do que fiz em Canção de ninar com fuzis.
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