quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Um verso inspirado em Henry Kissinger, que morreu aos 100 anos

Henry Kissinger morreu em 29 de novembro de 2023 aos 100 anos. Christopher Hitchens escreveu um esclarecedor livro sobre a eminente figura das relações internacionais, O julgamento de Kissinger, que me inspirou um verso neste meu livro de 2019.

Talvez ele esteja neste começo de poema, porém não tenho certeza porque perdi o índice onomástico de O desvio das gentes...




segunda-feira, 20 de junho de 2022

"Inseticida para humanos" escolhido para a antologia argentina "Interestelaria", de Julián Axat


Novamente um poema de O desvio das gentes apareceu em antologia, desta vez na Argentina. O escritor, editor e jurista Julián Axat escolheu para Interestelaria: Cosmos y Ciencia ficción (Ediciones en Danza, 2022) o poema "Inseticida para humanos", que ele mesmo traduziu para o espanhol.

O livro recolhe poemas de ficção científica e/ou sobre estrelas que vão da Antiguidade Grega até os dias atuais, passando por diversas línguas e culturas, incluindo autores brasileiros como Olavo Bilac e Murilo Mendes.

Para quem não leu este réquiem portátil, "Inseticida para humanos" trata da extinção da mencionada espécie, que tentou imitar as baratas, sem muito sucesso: "Nunca, porém, os homens souberam imitar a presciência das antenas".

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Revolta e protesto na poesia brasileira

Um poema de O desvio das gentes foi publicado na antologia Revolta e protesto na poesia brasileira: 142 poemas sobre o Brasil, organizada por André Seffrin.



Uma palavra sobre o livro: os 79 autores escolhidos vão, em ordem cronológica, de Gregório de Matos a Elisa Andrade Buzzo. Poetas mortos com o passe de valor alto, como Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade, não estão lá. Muitos outros estão, porém, inclusive este autor, com "Revalidação de diplomas", poema sobre a Líbia, a London School of Economics, o falecido Gaddafi e seu filho Saif al-Islam, que anunciou neste mês sua candidatura à presidência. 

Seffrin avisa, na nota que introduz o poema, que "qualquer semelhança com a realidade atual brasileira é mera coincidência"; de fato, no Brasil ainda não se pode dizer "abriram a via para o humano/ pisando os restos do soberano".


segunda-feira, 10 de maio de 2021

Julián Axat sobre o Desvio e sobre Quadro de Força, de Fabio Weintraub

 O escritor e jurista argentino Julián Axat, em "Dos poetas brasileños", escreveu em fevereiro sobre O desvio das gentes para El País digital. Ele fez o mesmo com Quadro de força, de Fabio Weintraub, também editado com apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Na matéria, há também traduções de alguns dos poemas por Coti López.

Segundo Axat, trata-se de "Dos libros, tan claramente hermanados, que funcionan como si fuera uno." Com efeito, trata-se de dois livros escritos pós-golpe (ele usa como referência o filme de Petra Costa, "Democracia em vertigem", na Argentina “Al filo de la democracia”) que tentam abordar as ruínas do país. Dito isso, ele destaca a diferença formal entre os dois livros:

A diferencia de Pádua, en donde el método jurídico se deconstruye en la cadencia quebrada de sus versos y el desvío en el lenguaje es una forma de denuncia; en Fabio, el erotismo de los cuerpos hablan por el poeta, llevándolo cual flâneur a territorios marginales cargados de violencia e inversión, donde el bestiario encuentra su modo de resistencia.

Concordo. Noto, porém, que há um erro na introdução na nota biográfica que antecede meus poemas traduzidos: jamais lecionei na USP. Além disso, creio que não fui traduzido para o inglês.

Sigam o blogue de Axat: https://elniniorizoma.wordpress.com/.


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Na lista dos cinco finalistas do Prêmio Jabuti, políticas do livro e cartuchos da campanha eleitoral

 


O desvio das gentes, publicado pela Patuá, agora está na lista dos cinco na premiação de poesia do prêmio Jabuti de 2020.  
Quero lembrar que este livro foi uma das obras publicadas com recursos da 2ª edição do Edital de Publicação de Livros na Cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura. Segunda e última edição, pois o programa de fomento não existe mais, apesar do sucesso da iniciativa.
Em 2019, ocorreram eleições para diversos Conselhos, entre eles o Conselho do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas. Em 2020, já durante a pandemia do coronavírus, preocupado com a situação de autores, editoras, livreiros, bibliotecas, mediadores de leitura, bem como com os leitores, ele aprovou as "Propostas do Conselho do PMLLLB para a Preservação do Ecossistema do Livro no Município de São Paulo". 
O importante documento propõe, entre outras iniciativas, "Retomar de forma ampliada o edital de publicação, limitando a 3 autores por editora, de modo a diversificar ao máximo o número de editoras atingidas." 
O Publishnews fez matéria sobre o assunto que, significativamente, não tem aparecido com destaque nos debates eleitorais. Sugiro, porém, que verifiquem não apenas em São Paulo (que tem seu Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca), que candidatos nestas eleições municipais estão realmente preocupados com as políticas de cultura e as mencionam em seus programas de ação ou governo.
No momento em que escrevo, os EUA ainda não conseguiram terminar de apurar os votos da eleição de 2020, e o presidente da república daquele país, apoiado pelo equivalente no Brasil, tenta judicializar o resultado e impedir a contagem de votos dos cidadãos americanos, contando com o uso da força dos movimentos e milícias pró-governo. Um exemplo: https://twitter.com/Mediavenir/status/1324101536168005639.
Logo ocorrerá o primeiro turno das eleições no Brasil, que já fez alguns mortos políticos. Em homenagem ao momento político, em que as campanhas eleitorais deixam cartuxos de bala no chão, transcrevo este breve poema de O desvio das gentes:


Autofagia da bactéria


cartuchos de bala
largados pela campanha eleitoral dos candidatos fascistas
microfones autovox
descartados pelo avanço tecnológico dos ruídos industrializados
telefones ou aparelhos de escuta
de quem os comprou sob o preço de doar a própria voz
motosserras descartáveis
para que todos possam recriar o deserto em torno de si
antigas câmaras
largadas em favor dos instrumentos subcutâneos de espionagem

tudo isso avança sobre o oceano
antes de voltar aos continentes
coberto pela mutação dos tentáculos
e das espinhas e presas transformadas em maremoto

eu lamentaria
pela salubridade das chamas
se o inferno tivesse que receber o mundo

mas o inferno não receberá essa pena
o mundo é o bebê da bactéria
e ela se alimenta dos próprios filhos




P.S.: O livro vencedor do Jabuti foi "Solo para vialejo", de Cida Pedrosa, publicado pela Editora CEPE, nas categorias de poesia e de livro do ano.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O desvio das gentes no Prêmio Jabuti

O desvio das gentes chegou a finalista do Prêmio Jabuti. Nove outros livros também foram escolhidos, que representam esta boa fase da literatura brasileira:


Faço notar que Adriana Lisboa também é finalista na categoria romance. 

A divulgação dos finalistas chegou dias depois da morte de Mohammad Reza Shajarian, por câncer. A grande voz da música persa e dos direitos humanos morreu em 8 de outubro de 2020. O último poema de O desvio das gentes foi escrito para ele e a partir dele, bem como para a poeta e ativista Ghorrat'ol Ein.

Escrevo esta nota para dizer que recebi a notícia do Jabuti pensando no grande artista e em todas as perdas que já se acumularam em 2020.

sábado, 11 de abril de 2020

Corrente Patuá 2: parcerias na criação (atualização em 12 de maio)

Quando tive a ideia desta corrente de autores da Patuá, pensei que editora e autores gostariam de expor seus trabalhos neste momento em que nós não podemos encontrar pessoalmente o público.
Imaginei também que a corrente serviria talvez para revelar ou confirmar parcerias na criação. Isso ocorreu. No último vídeo realizado, Lilian Sais fala do contato criativo com Leandro Rafael Perez, o que é esclarecedor para leitores e críticos.

Corrente Patuá 1: Pádua Fernandes e Fabio Weintraub - https://youtu.be/Hm-wJwbiqMc
Corrente Patuá 2: Fabio Weintraub e Ruy Proença - https://youtu.be/hGBhmp6NMYI
Corrente Patuá 3: Ruy Proença e Renan Nuernberger - https://youtu.be/y86S-c49NxI
Corrente Patuá 4: Renan Nuernberger e Lilian Aquino - https://youtu.be/t-qJTH3WLPw
Corrente Patuá 5: Lilian Aquino e Rubens Rewald - https://youtu.be/YY51oGwvNDA
Corrente Patuá 6: Rubens Ewald e Cel Bentin - https://youtu.be/A85awvL0IAU
Corrente Patuá 7: Cel Bentin e Mariana Godoy - https://youtu.be/8Y7T5SsrHnk
Corrente Patuá 8: Mariana Godoy e Bruna Mitrano - https://youtu.be/QhA2VHDYHvs
Corrente Patuá 9: Bruna Mitrano e Nina Rizzi - https://youtu.be/lqWYY_obT_s
Corrente Patuá 10: Nina Rizzi e Lilian Sais - https://youtu.be/T6KcSnnbhgw
Corrente Patuá 11: Lilian Sais e Leandro Rafael Perez - https://b-www.facebook.com/lilian.sais/videos/10214842925381777/

Esperemos que outras leituras venham logo. Para visitar o sítio da editora e comprar os livros mencionados e outros (há tantos, a Patuá abriga em seu catálogo desde estreantes até imortais da Academia Brasileira de Letras), cliquem aqui: http://editorapatua.com.br

Atualização em 12 de maio: aparentemente, a corrente acabou, ou entrou em suspenso, depois do décimo segundo vídeo:

Corrente Patuá 12: Leandro Rafael Perez e Geruza Zelnys - https://www.youtube.com/watch?v=BZcvIxP_G48&t=

Coincidentemente, o livro Quintais, de Zelnys, também recebeu auxílio do edital para publicação de livros da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, em 2017. O desvio das gentes ganhou-o no segundo ano do edital, que se tornou o último, pois a Prefeitura decidiu extingui-lo.

domingo, 29 de março de 2020

Vídeos de leitura: Corrente Patuá de autores

Tive a ideia de começar uma corrente de autores da editora Patuá nestes tempos de pandemia. Fabio Weintraub logo topou participar; ele chamou Ruy Proença, que convidou Renan Nuernberger, que entrou em contato com Lilian Aquino, que, como eu, chamou o marido, Rubens Rewald, que leu Cel Bentin, a quem caberá filmar o próximo elo e escolher o próximo autor. Tudo isso em menos de 24 horas. Espero que continue por muitos episódios.
Muitos autores têm lembrado que, com as medidas de isolamento social vigentes, a editora não pode realizar lançamentos, o que compromete seus rendimentos. Mas há outra questão, que é a dimensão do encontro, presente sempre na literatura, mesmo a que parece mais, digamos, minoritária. Um livro sempre pode ser uma garrafa com mensagem atirada ao mar, embora não haja terra e sejamos todos náufragos.

Corrente Patuá 1: Pádua Fernandes e Fabio Weintraub - https://youtu.be/Hm-wJwbiqMc
Corrente Patuá 2: Fabio Weintraub e Ruy Proença - https://youtu.be/hGBhmp6NMYI
Corrente Patuá 3: Ruy Proença e Renan Nuernberger - https://youtu.be/y86S-c49NxI
Corrente Patuá 4: Renan Nuernberger e Lilian Aquino - https://youtu.be/t-qJTH3WLPw
Corrente Patuá 5: Lilian Aquino e Rubens Rewald - https://youtu.be/YY51oGwvNDA
Corrente Patuá 6: Rubens Ewald e Cel Bentin - https://youtu.be/A85awvL0IAU

Para visitar o sítio da editora, cliquem aqui: http://editorapatua.com.br

quarta-feira, 18 de março de 2020

Alexandre Kovacs sobre O desvio das gentes em Mundo de K

Alexandre Kovacs fez uma apresentação de O desvio das gentes em seu blogue sobre arte (literatura, pintura, fotografia, música) e cultura Mundo de K. Esta é a ligação:
https://www.mundodek.com/2020/03/padua-fernandes-o-desvio-das-gentes.html#.XnKSZqhKiUk
Kovacs, em sua resenha, cita "O museu da sustentabilidade", "Organismo da bomba" e "Inseticida para humanos", o poema em que homenageio as baratas, o impressionante animal que remonta ao Paleozoico.
Nos três casos, Kovacs vê a "estranheza dos temas abordados" em relação à poesia "dita tradicional". Achei muito interessante a observação, porque nada do que trato neles (nuvens radioativas, royalties da indústria bélica, mensagens de celulares) me parece estranho, tampouco, enquanto escrevia, senti assim os assuntos, por sinal tão presentes no mundo, seja como ambiente, seja como ameaça ou ambos.
No entanto, é verdade que não se trata de temas típicos da poesia lírica, campo onde este livro decerto não está. John Donne colocou pulgas em poema de amor (leiam esta tradução de "A Pulga" por Augusto de Campos), mas meus insetos, como os mosquitos e os cupins de Cinco lugares da fúria, estão interessados na extinção. Na nossa extinção.

segunda-feira, 16 de março de 2020

"expomos também o mundo. Está numa ala do museu do vírus"



Sim, expomos também o mundo. Está numa ala do museu do vírus. Ela está fechada para reformas, ainda não iniciadas, pois não encontramos investidores interessados.

***

Tampouco somos diferentes de vírus e congêneres, eles caçam com nossas fraturas, cozinham com nossos incêndios, comem com nossas bocas, e nós não nos alimentamos mais, toda a desertificação intravenosa lhes pertence. A septicemia, nova fonte das formas artísticas. Escuro, agora. Vemos todas as imagens do novo mundo em páginas de bulas de remédio. Arrancadas.

***

o corpo não absorve alimentos
substituídos pelo mundo inteiro
o corpo escapa de si mesmo
em não mais do que duas semanas
os cabelos caem, o urânio os exige
o pulmão dissolve-se na boca
o coração tenta morder
o sangue que desce pelos pés
azul cinza vermelho amarelo
mucosas de todas as cores caem
o arco-íris contamina o chão
a pele corre para o mundo
e a fuga torna todos os corpos
em elementos radioativos
a bomba explodiu
e o que não se partiu com ela
comungará a vida com o vírus
em não mais do que duas semanas

***

Valas comuns
não representam encontros,
desapareceram da carteira de investimentos,
mas causam esquecimentos
de versos das orações.

A fila de inválidos nas entranhas da enfermeira,
os hospitais no interior do vírus,
as bactérias inchando
o corpo das orações: explodem
e superam a previsão dos investidores.

A guerra está curada
e pronta para seguir








Acima, alguns dos trechos sobre vírus neste meu livro de 2019, O desvio das gentes.



Um verso inspirado em Henry Kissinger, que morreu aos 100 anos

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