Sim, expomos também o mundo. Está numa ala do museu do vírus. Ela está fechada para reformas, ainda não iniciadas, pois não encontramos investidores interessados.
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Tampouco somos diferentes de vírus e congêneres, eles caçam com nossas fraturas, cozinham com nossos incêndios, comem com nossas bocas, e nós não nos alimentamos mais, toda a desertificação intravenosa lhes pertence. A septicemia, nova fonte das formas artísticas. Escuro, agora. Vemos todas as imagens do novo mundo em páginas de bulas de remédio. Arrancadas.
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o corpo não absorve alimentos
substituídos pelo mundo inteiro
o corpo escapa de si mesmo
em não mais do que duas semanas
os cabelos caem, o urânio os exige
o pulmão dissolve-se na boca
o coração tenta morder
o sangue que desce pelos pés
azul cinza vermelho amarelo
mucosas de todas as cores caem
o arco-íris contamina o chão
a pele corre para o mundo
e a fuga torna todos os corpos
em elementos radioativos
a bomba explodiu
e o que não se partiu com ela
comungará a vida com o vírus
em não mais do que duas semanas
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Valas comuns
não representam encontros,
desapareceram da carteira de investimentos,
mas causam esquecimentos
de versos das orações.
A fila de inválidos nas entranhas da enfermeira,
os hospitais no interior do vírus,
as bactérias inchando
o corpo das orações: explodem
e superam a previsão dos investidores.
A guerra está curada
e pronta para seguir
Acima, alguns dos trechos sobre vírus neste meu livro de 2019,
O desvio das gentes.