VIII
Palco todo coberto de pedras.
Nenhuma sombra do humano.
A bomba explode na plateia.
De súbito, começa o teatro;
o público deixa sua condição de espectador,
torna-se acontecimento;
não são mais vítimas,
mas atores da própria dor
(ou seja, atores),
olham-se estupefatos
do próprio sangue;
(o teatro mantém o poder
de surpreender-te com teu próprio coração)
o público, sem saber, cumpre o roteiro
com fuga, pânico
e a imobilidade dos que não podem mais escapar;
o contraste cria o drama;
alguns deixam o prédio, mas não há lugar
onde não se encontrem a bomba
ou as pedras
que cobrem a superfície do possível;
e a possibilidade onipresente da explosão
deixa idênticos teatro e mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário