terça-feira, 8 de outubro de 2019

"Uma pedra, atirada em resposta a um míssil, inaugura um mundo novo": Taís Franciscon sobre O desvio das gentes

Convidei a professora e crítica Taís Franciscon, autora de ensaio sobre livro anterior meu, "'Topografia negativa' em Cálcio, de Pádua Fernandes", para escrever a orelha e a apresentação de O desvio das gentes.
Destaco este trecho daquele ensaio:
O livro é constituído pelo cálcio das ossadas dos mortos nas ditaduras militares da América Latina, outro legado do horror generalizado do século XX: voltam para contar as histórias de tortura, assassinato e da banalidade do mal [4] que marcaram os regimes autoritários. O poema foi escolhido especificamente por seu dialogismo radical, em que várias vozes distintas ecoam no poema, em que ressoam opiniões dadas em diálogos, contando inclusive com o uso de travessões, típicos dos discursos diretos — a voz dos torturadores inclusive, para quem os ossos sempre foram o resíduo impertinente da ocultação dos cadáveres.
Essa poética continua no livro novo, que trata de outras matérias, correlatas porém.
Franciscon, para minha alegria, aceitou o convite e, na orelha do livro novo, fez esta comparação com Cabral:
Uma pedra, atirada em resposta a um míssil, inaugura um mundo novo: assim começa O Desvio das Gentes. É como uma "Fábula de Anfion" às avessas: não o mito da criação cabralina, em que há o surgimento de Tebas a partir do deserto de pedras, mas sim uma história da destruição. Não só o que nos levará a essa destruição: sobretudo, há uma investigação do que sobrevive à catástrofe, à aniquilação de (quase) tudo.
O texto alude ao primeiro poema de meu livro, "Museu da sustentabilidade" que começa desta forma:
I
Uma pedra
é atirada em resposta ao míssil;
onde ela caísse
o mundo poderia se inaugurar.
De fato, o espírito é oposto ao da Fábula. Leiam abaixo o texto integral da orelha:


Relembro que o livro será lançado no dia 24 de outubro na Biblioteca Municipal Álvaro Guerra, na Avenida Pedroso de Moraes, 1919, bairro Pinheiros.


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